quarta-feira, 29 de julho de 2009

MÁSCARAS


"Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era
e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pregada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó
que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo.
E vou escrever esta história
para provar que sou sublime."


("Tabacaria", Fernando Pessoa)

quarta-feira, 15 de julho de 2009

QUERO SER UMA ÁRVORE...


Quero ser uma árvore FRONDOSA, que não se esqueça que partiu de uma frágil semente, mas que busque alcançar a PLENITUDE dos ares mais elevados.

Quero ser uma árvore EXUBERANTE, que compartilhe com os outros sua BELEZA, mas que reconheça que beleza maior é a da floresta INTEIRA.
Quero ser uma árvore FORTE, que conserve a CORAGEM original de romper a semente e que não envergue com qualquer ventania. Mas que tal fortaleza não se torne rigidez, permitindo a SUBLIME ENTREGA ao balanço tranqüilizante de uma brisa SUAVE.
Quero ser uma árvore GENEROSA, com copa DENSA o bastante para gerar sombra que ABRIGUE os necessitados de descanso. Que no seu EQUILÍBRIO, saiba se desprender das folhas desnecessárias que sirvam pra FERTILIZAR o solo.
Quero ser uma árvore PLENA! Semente FRUTUOSA, raízes SEGURAS, tronco FIRME, galhos GENEROSOS, folhas ACONCHEGANTES, frutos ESPERANÇOSOS de novas sementes...
Quero ser uma árvore que ao tombar sobre o solo, tenha a certeza de que soube tirar dele exatamente o necessário para o seu sustento. Nem mais, nem menos!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

VIR A SER


"Eu procuro por mim.
Eu procuro por tudo o que é meu
e que em mim se esconde.
Eu procuro por um saber que ainda não sei,
mas que de alguma forma já sabe em mim.
Eu sou assim...
processo constante de vir a ser.
O que sou e ainda serei são verbos que se conjugam
sob áurea de um mistério fascinante.
Eu me recebo de Deus e a Ele me devolvo.
Movimento que não termina
porque terminar é o mesmo que deixar de ser.
Eu sou o que sou na medida em que me permito ser.
E quando não sou é porque o ser eu não soube escolher."

(do livro "Quem me roubou de mim - O sequestro da subjetividade e o desafio de ser pessoa", Fabio de Melo)

sábado, 4 de julho de 2009

DA MINHA JANELA...


Da minha janela vejo a chuva cair.
As folhas das árvores agora brilham e se regozijam com o toque das gotas suaves.
A rua trnaforma-se em rio; ponto de encontro das águas que correm sedentas por encontrar o mar.
O perfume de terra molhada me faz suspirar.
Como que bênção dos céus, vem nossa alma lavar e nosso sono embalar.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

PORTAS



Portas foram abertas.
Outras permanecem fechadas.
Algumas se abriram sem que eu nem mesmo as notasse fechadas.
Outras se fecharam por mais que eu as quisesse abertas.

No abre e fecha de portas, sigo sem ainda compreender o que as faz abrir ou fechar. As chaves tanto fecham quanto abrem, mas saber como usá-las é um desafio. Que chave se encaixa em qual fechadura? E mesmo que se encaixe, como e quando será melhor usá-la?

O caminho segue. As portas se multiplicam. A dúvida se modifica mas permanece... Que porta devo abrir? Qual devo fechar? O que cada uma delas esconde? Quem dera elas fossem de vidro e me permitissem uma espiadela... Mas não! São madeira maciça... Não nos permitem vislumbrar o que escondem. Posso olhar pelo buraco da fechadura... ou talvez fosse melhor escancará-las de vez...

Acho que escolho abrir. Na dúvida, eu torno a fechá-las correndo!